O desenvolvimento de infraestrutura é um fator-chave no crescimento da Argentina e na integração econômica da região.
Ernesto Gutiérrez Conte não é um empresário comum. Um dos líderes mais
destacados do setor empresário da Argentina, Gutiérrez começou sua
carreira como empreendedor aos 19 anos, quando abriu uma empresa para
importar produtos relacionados com o surf. Hoje, como CEO de Aeropuertos
Argentina 2000, empresa que administra 33 aeroportos na Argentina,
assim como aeroportos no Uruguai (Montevidéu e Punta del Este) e no
Equador, Gutiérrez proclama que os negócios são como o surf, onde a
sincronização e o trabalho árduo são as chaves para o sucesso. IPS se
reuniu com Gutiérrez para conversar sobre as modificações que estão
ocorrendo atualmente em AA2000, na Argentina e na América Latina.
IPS: Como CEO de AA2000, uma empresa com diversos interesses comerciais
tanto na Argentina quanto em outros países da América Latina, o senhor
se encontra em uma posição privilegiada para analisar a situação da
economia regional. O papel da América Latina como sócio global está
crescendo novamente?
Ernesto Gutiérrez Conte: Antes de 2008, a América Latina crescia a um ritmo
anual de 6%, o que atraía capitais estrangeiros a níveis sem
precedentes. No entanto, também colocava em evidencia a infraestrutura
subdesenvolvida do continente. O magnífico crescimento do PBI da região
provocou um colapso na capacidade dessa infraestrutura, saturando a
capacidade de crescimento do continente. Todos os esforços voltados ao
desenvolvimento de infraestrutura devem sustentar-se visando o
crescimento futuro da região. Da mesma maneira, a incidência criada pelo
desenvolvimento de infraestrutura é infinita. A reconstrução dos
portos no litoral do Pacífico permitiria concretizar a interconexão
energética de todo o continente. Dada a variada estacionalidade que se
observa na América Latina, interconexões energéticas eficientes
tornariam a otimização da dotação de energia finalmente uma realidade em
toda a região. As oportunidades são enormes e essa é precisamente a
razão pela qual percebemos um maior interesse dos investidores
internacionais pela América Latina em geral e, em particular, pela
Argentina. É interessante ver que o país que mostrou mais interesse na
região foi a China, apesar de nossas relações comerciais com a UE já
serem uma realidade, como prova o Tratado assinado recentemente em
Madri.
IPS: De fato, a Cúpula entre a UE e a América Latina, realizada em
Madri, demonstrou que todos os parceiros latinoamericanos agem como uma
frente unida, deixando de lado o individualismo nacional. O que mudou?
Ernesto Gutiérrez Conte: Independentemente da concorrência, na hora de falar sobre
comércio internacional ocorre algo que tem a ver com uma massa crítica.
Poderia parecer que a Argentina e o Brasil, por exemplo, são
competidores na produção de soja. Na verdade, os dois países representam
70% da produção de soja do mundo e isso os dota de poder para fixar seu
preço no mercado mundial. Essa associação reforça as respectivas
posições como produtores de soja.
Da mesma maneira, é uma vantagem que um país como o Brasil goze de uma
exposição tão global entre os investidores internacionais, pois focaliza
a atenção na região. Quando isso se combina com o desempenho econômico
da Argentina, do Chile e do Peru, a América Latina se posiciona como um
dos principais destinos de investimentos da economia global, com índices
de crescimento que estão acima da média mundial.
IPS: Como AA2000 capitaliza esses acontecimentos regionais?
Ernesto Gutiérrez Conte: A chegada de passageiros nos aeroportos da Argentina cresce
anualmente em média de 6% a 9%, evidenciando que sua capacidade é
reiteradamente ultrapassada todos os anos. Em outubro de 2009, o tráfico
de passageiros aumentou 20% em comparação com outubro de 2008.
Calculamos que o déficit operacional na Argentina ronda aproximadamente
65% a 70%. É por essa razão que AA2000 iniciou um projeto de
modernização e ampliação da capacidade do Aeroporto Internacional de
Ezeiza para 8 milhões de passageiros por ano. Em 2012, esperamos que o
Aeroporto de Ezeiza tenha capacidade para receber 20 milhões de
passageiros por ano. Atualmente, nossa prioridade é resolver a falta de
interconexão entre voos regionais e domésticos, proporcionando uma
interconexão entre Ezeiza e Aeroparque. Essa interconexão ofereceria uma
magnífica oportunidade para desenvolver ainda mais outros setores de
turismo, como o turismo de congressos e negócios, pois teria um efeito
positivo na capacidade instalada, que rondaria 30% a 50% durante os
primeiros cinco anos.
Nossa segunda prioridade consiste em trabalhar com Aerolíneas
Argentinas (a linha aérea nacional da Argentina) com o objetivo de
otimizar a distribuição de passageiros para as regiões locais, que
atualmente são subatendidas. Assim, as regiões se beneficiariam com a
maior afluência de passageiros e com o aumento dos serviços colaterais
que acarretaria, e o serviço oferecido aos passageiros internacionais
também melhoraria, pois a possibilidade de conectar voos internacionais e
domésticos sem grandes demoras aumentaria.
Esses esforços redundarão na criação de uma rede aeroportuária que,
acreditamos, se transformará finalmente em um grande valor agregado para
o turismo. É, definitivamente, uma fórmula que queremos exportar para
outros países onde administramos aeroportos.